Alguns tipos de sangue são tão incomuns que encontrar um doador compatível pode se tornar um desafio, especialmente em situações de emergência. No Brasil, tipos como AB negativo ou fenótipos como o Bombay e o Rh nulo estão entre os mais difíceis de encontrar nos bancos de sangue.
A raridade pode acontecer tanto pela presença de marcadores muito específicos quanto pela ausência de antígenos que estão presentes na maior parte da população. “Quem não tem um marcador comum pode ter mais dificuldades para encontrar sangue compatível quando precisa de uma transfusão”, explica o hematologista Diogo Kloppel Cardoso, do Hospital Brasília, em Águas Claras.
Entenda mais sobre a classificação dos tipos de sangue
- O sistema ABO e o fator Rh são os principais classificadores dos grupos sanguíneos usados em transfusões e transplantes.
- O sistema ABO divide o sangue em quatro tipos (A, B, AB e O), de acordo com os antígenos A e B presentes nas hemácias.
- O fator Rh determina se o sangue é positivo ou negativo, com base na presença ou ausência do antígeno Rh (D).
- Fenótipos como Bombay e Rh nulo são variações raras e relevantes dentro desse sistema.
- No Brasil, os tipos mais comuns são o O e o A, que juntos correspondem a cerca de 87% da população.
Tipos de sangue raros no Brasil
Entre os tipos de sangue mais conhecidos, o AB negativo é o mais raro no Brasil, presente em menos de 1% da população. Outros tipos, como o B negativo e o A negativo, também são considerados raros, embora sejam um pouco mais comuns.
Além dos sistemas ABO e Rh, existem também os chamados fenótipos raros, que são variações genéticas capazes de tornar o sangue ainda mais exclusivo. Alguns casos são extremamente incomuns, como o tipo Bombay, que só pode receber transfusão de outro doador Bombay e não possui um antígeno específico, e o Rh nulo, também chamado de “sangue dourado”, encontrado em menos de 50 pessoas em todo o mundo.
A distribuição varia de acordo com fatores étnicos e regionais. “Os tipos negativos são mais comuns em pessoas de origem europeia, então aparecem com mais frequência no Sul e Sudeste do Brasil. Já fenótipos como o Duffy negativo são mais comuns em pessoas negras; e o Diego negativo, em pessoas indígenas”, explica Cardoso.
Impacto da raridade em situações de emergência
Ter um tipo de sangue raro pode complicar o acesso a uma transfusão urgente. “Quando o paciente tem um tipo raro, as chances de encontrar uma bolsa compatível rapidamente diminuem muito, simplesmente porque há menos doadores com esse mesmo tipo”, diz o hematologista.
Se não houver estoque disponível em hospitais ou bancos de sangue comuns, pode ser necessário acionar bancos especializados ou procurar doadores em outros estados, processo que leva tempo. “E, em uma emergência, o tempo é o recurso mais precioso”, destaca.
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Para reduzir o problema, os bancos de sangue monitoram doadores raros e mantêm contato frequente com eles.
“Em alguns casos, bolsas de sangue raro são congeladas e armazenadas por longos períodos para uso emergencial”, explica o hematologista Ivan Furtado, especialista em transplante de medula no Rio de Janeiro.
Doadores de sangue raro precisam ser monitorados em caso de emergência
Como funciona o cadastro de doadores raros?
Pessoas com sangue raro podem se registrar em cadastros nacionais, como o da Hemorrede Pública Nacional. O processo começa com uma doação comum em um hemocentro, onde são feitos testes laboratoriais avançados. Se for identificado um tipo raro, o doador é convidado a entrar no registro.
O cadastro envolve o consentimento do doador, a coleta de dados genéticos e o monitoramento contínuo para garantir que ele possa ser acionado rapidamente quando necessário. Em alguns casos, novas amostras são colhidas periodicamente para manter estoques congelados.
Há ainda um esforço internacional de cooperação. O Brasil integra o International Rare Donor Panel, mantido pela Organização Mundial da Saúde, que permite o compartilhamento de informações entre países. Isso facilita o acesso global a sangue raro quando a compatibilidade não é encontrada localmente.
Para os especialistas, esse é um trabalho de rede que salva vidas. “Para quem tem sangue raro, se manter como doador ativo é um ato de generosidade e também uma forma de garantir proteção para si e para outros que dependem desse gesto”, conclui Cardoso.
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