Um dos alimentos mais conhecidos em todo o Brasil, o milho, seja verde, cozido, assado, no cuscuz ou utilizado em receitas, tem valores nutricionais importantes para a saúde de pessoas e animais. Nesta quarta-feira (24), o milho ganhou um destaque ainda maior, já que neste dia, desde 2015, comemora-se o Dia Internacional do Milho.
Presente na rotina dos brasileiros, especialmente dos nordestinos, além de saboroso, o alimento também é uma fonte de renda para muitos agricultores. E para falar sobre a importância do cultivo e produção do milho, o portal Acorda Cidade conversou com Conceição Borges, coordenadora do Polo Sindical da Região de Feira de Santana e presidente do Movimento de Organização Comunitária (MOC).
Diante da sua relevância, em Feira de Santana, o milho já teve uma produção melhor. Isso porque alguns fatores contribuem para a queda na produção, como as mudanças climáticas, o desmatamento e até mesmo a utilização de agrotóxicos. Conceição Borges explicou como a manufatura foi reduzida no município.
Conceição Borges
Foto: Ed Santos/ Acorda Cidade
“Nos últimos anos vimos uma queda da produção. Mesmo o milho sendo uma cultura de subsistência, já que são duas culturas importantes para nós da agricultura familiar, o milho e a mandioca, porque eles têm praticamente 100% de aproveitamento, tanto para nós humanos como para gerar ração animal. Nos últimos anos, por uma série de fatores, entre eles a situação climática, não temos tido chuva com regularidade e isso vem impactando diretamente na produção da agricultura familiar. O milho é um dos produtos que têm sofrido uma queda na produção. Temos três elementos que vêm acontecendo para haver uma queda na produção. A mudança climática, as chuvas, o desmatamento, isso impacta diretamente, e o uso de agrotóxicos que causa o empobrecimento do solo. Podemos dizer que na nossa região ainda tem sido a principal cultura e que garante a renda das famílias”, disse.
Sementes
Além dos fatores que podem contribuir com a queda da produção do milho, uma das razões que também influenciam na plantação do alimento são as sementes. A germinação das sementes, feita pelos agricultores antigamente, favoreciam o cultivo. Porém, conforme Conceição Borges, com a baixa qualidade encontrada do grão, a expectativa na colheita, sempre é reduzida.
“Há alguns anos, nós agricultores que tem um cuidado e carinho, essas sementes elas tinham outro trato, era plantada em um local diferente, tinha uma adubação especial e hoje a gente não leva mais em conta. Antigamente o nosso pessoal tinha uma sabedoria própria, inclusive para preparar essa semente para que fosse armazenada, tanto para plantar, como para colher e armazenar. Tudo isso é elemento para que a semente plante e a gente colha. Hoje em dia, infelizmente em todo mercado a gente compra a semente, por isso a dificuldade em encontrar a semente crioula. Mas ainda temos agricultores que ainda têm essa prática há mais de cem anos”.
Plantio e colheita
Questionada sobre o período atual do plantio e colheita do milho, a coordenadora do Polo Sindical contou que em média, 90 dias são suficientes para o recolhimento do alimento.
Milho Centro de Abastecimento_ Foto Ney Silva Acorda Cidade
Foto: Ney Silva/ Acorda Cidade
O milho, como enfatizou Conceição, é o cereal que pode ser produzido com um período curto de tempo.
“Quando a gente fala de sementes, falamos do período. A produção ela varia entre 60 dias, mas o normal é 90 dias, tanto para o milho quanto para o feijão. Hoje, até por conta de algumas mudanças no clima, a previsão é de 90 dias. Quando a gente fala de mandioca, ela demanda um tempo maior, mas o milho é essa média e tem gente que consegue comercializar até o milho verde”, frisou a sindicalista em entrevista ao Acorda Cidade.
Garantia de produção
O milho pode ser aproveitado em toda a sua totalidade, desde a espiga e a palha (ração animal e adubação) aos grãos (consumo). A sua venda também pode ser desde ser feita assim que amadurecida, para o preparo cozido ou assado, ou de derivados.
Mas, para que o produto chegue às mesas, é necessário a garantia de uma boa produção. Conceição Borges aproveitou para explicar que o cuidado com o solo e a adubação podem ser aliados na colheita do produto.
“O dever de casa é cuidar bem do solo. Se a gente não cuidar bem do solo e não fizer a recuperação, se a gente não discutir uma adubação concreta e uma semente que se adeque a nossa realidade, vamos continuar nessa desvantagem de plantar na esperança de colher uma quantidade e no final da colheita, colher até 50% a menos do que o previsto. Os fatores são adubação, solo de qualidade e semente. A situação climática já foge da nossa realidade, porque temos que conviver, mas esses fatores também contribuem para a queda na produção”.
São João
Uma das épocas mais consumidas do milho, é o São João. E, para que o consumo possa acontecer na época, o plantio geralmente é feito no dia de São José, em 19 de março.
Para o consumo da família, Conceição Borges reforçou que alguns agricultores garantiram o plantio neste ano. Porém, se tratando de vendas em larga escala, a coordenadora frisou que a prática ainda é escassa.
“Temos uma cultura de plantar um pouco de milho no período de São José, mas quem conseguiu plantar com certeza vai colher, agora não é tradição e não é do nosso calendário agrícola fazer um grande plantio. Nosso calendário agrícola começa a partir do dia 15 de abril, mas geralmente pro São João se planta para o consumo da família, não é plantado para um consumo maior e que venha a gerar um consumo maior para as famílias”.
Incentivo à plantação
Para alavancar a produção de milho em Feira de Santana, projetos foram criados e enviados às autoridades públicas. Conceição Borges destacou ainda que no município existem espaços que podem ser explorados garantindo a plantação de alimentos do campo, valorizando a agricultura familiar.
Conforme Conceição Borges, se não há produção, não há alimento na mesa dos brasileiros.
“Temos trazido o debate inclusive para os governantes como uma política pública para a agricultura familiar. A proposta do Polo Sindical é pegar a Estação Rio Seco, que atualmente é coordenada pela Universidade Estadual de Feira de Santana, e transformar aquilo em um campo de produção de mudas e sementes. É um lugar onde temos muita terra e condições, é uma área do governo do Estado. Eu perco na minha produção, mas isso fará falta na mesa de outras pessoas, então é um elemento importante esse projeto. Nenhum jovem também quer permanecer no campo na produção de alimentos. Se eu fosse uma jovem hoje e estivesse no início de carreira, e com o destrato atual da agricultura familiar, eu não sei se queria também seguir essa profissão. Então, os governantes precisam pautar a recuperação do solo, a adubação. Então, é uma pauta importante”, concluiu.