A professora Jandira Carla Araújo utilizou as redes sociais para fazer uma denúncia. Segundo ela, o filho, de 14 anos de idade, possui o Transtorno do Espectro Autista (TEA) e tem seletividade alimentar. O adolescente foi proibido pela escola, onde estuda, de levar o lanche de casa. O caso aconteceu em uma unidade da rede estadual em Feira de Santana.
Os atípicos, como também são chamados as pessoas que possuem o espectro autista, enfrentam uma série de desafios que normalmente são potencializados pela falta de conhecimento de outras pessoas sobre o tema. Sensibilidade a som alto, hiperfoco, déficit de atenção e a seletividade alimentar são alguns exemplos de problemas que os atípicos enfrentam e podem ser considerados, de maneira equivocada, como algo “simples de ser resolvido”. Em entrevista ao Acorda Cidade, a mãe contou como descobriu que o filho estava sem se alimentar.
“Ele sempre levou lanche, porque ele tem seletividade alimentar. Eu sempre mando o lanche e a água. Ele vinha se alimentando normalmente, mas na última semana, o lanche e água começaram a retornar para casa. Eu percebi que ele estava reclamando de dor de cabeça, com a mão fria e quando chegava, corria logo para comer. Eu perguntei diversas vezes o que estava acontecendo, porque aquele lanche estava voltando e ele não dizia. Até que ele me disse: ‘mãe eu não lanchei, porque a moça que entrega a ficha para o lanche me disse que não era para eu comer, que era proibido e que o lanche era para guardar na mochila, então eu guardei’. Ele é uma criança que cumpre as regras, se ela disse que não era para comer, ele também entendeu que não era para beber água”, declarou Jandira.
A seletividade alimentar, como a que o estudante apresenta, é caracterizada por uma pequena variedade de alimentos ou forma que estes alimentos são apresentados, que a pessoa com o transtorno autista aceita ou rejeita. Essa condição pode ser causada por problemas de modulação sensorial dos sentidos com a audição, visão, olfato, paladar e toque, características presentes no diagnóstico do TEA. A mãe explicou que procurou a coordenação do Instituto de Educação de Tempo Integral Gastão Guimarães, escola que o adolescente estuda.
“Eu procurei a coordenação pedagógica da escola, que me disse que, de fato, era proibido comer o lanche levado de casa e que, no relatório médico, que traz que ele é autista, o neuropediatra não escreveu que ele tem seletividade alimentar. Então, não poderia ser feito nada. Na última sexta-feira, dia 16, eu retornei a escola e fui recebida pela diretora. Ela explicou que ninguém na escola vai comer lanche levado de casa e que a escola serve o almoço oferecido pelo estado. Ela disse que eu não sinalizei no início do ano. Eu falei que entreguei na matrícula um relatório que atesta que ela é autista. Eu levei outro relatório feito pela neuropsicóloga que acompanha meu filho, onde tem descrito a seletividade alimentar. Ela disse que iria pegar aquele relatório e encaminhar a nutricionista do estado, e que a gente precisava aguardar a posição da nutricionista. Eu falei, enquanto isso, ele vai ficar sem se alimentar na escola? [ela respondeu] Vai”, disse a mãe.
O convívio em sociedade é um ponto-chave para o processo de desenvolvimento e aprendizado de uma criança ou adolescente atípico. Estar em constante contato com colegas da mesma faixa etária e pessoas que fogem do círculo da família faz com que eles se sintam livres para explorar novas possibilidades.
Jandira frisou que o filho já estudou em escolas particulares e que ela tomou a decisão de colocar em uma pública para aumentar as possibilidades de interação do adolescente. Ela destacou que os desafios que o jovem enfrenta não estão necessariamente ligados ao fato de, agora, estar em uma escola pública.
“Ano passado teve uma situação também de bullying, de exclusão em uma escola particular e nós decidimos procurar uma escola pública. Porque ele precisava conviver com outros ambientes, com outras pessoas. E, de fato, a escola pública foi mais aberta, foi mais acolhedora pelo serviço de acompanhamento especializado da escola. Eu não trago aqui como um problema da escola pública. Porque eu vim da escola particular e eu sofri as mesmas”, disse Jandira ao Acorda Cidade.
Diversos estudos mostram que a inclusão de crianças com espectro autista na rotina habitual da escola, quando realizada de forma adequada, traz uma série de benefícios com melhora na socialização, no desenvolvimento da autoestima, na autonomia e no aprendizado acadêmico de maneira geral. Apesar deste entendimento, Jandira alega que o filho não vem recebendo o devido suporte por parte da escola.
“O que ele mais gosta de fazer é jogar bola. O hiperfoco dele é no esporte, ele gosta muito de Fórmula 1, ele sabe falar sobre todos os pilotos, todas as empresas, ele fica acompanhado de perto a corrida. Ele gostava muito de educação física, mas com um boletim onde ele tira 0,6 pontos, eu acredito que isso fez com que ele tenha se sentido menor na questão do esporte, o boletim vem como um divisor de águas neste momento. Além disso, nós vivemos uma situação super delicada, qual foi a gincana, onde diziam que era uma gincana inclusiva, mas o meu filho ficou de fora. Eu tenho as mensagens dele, fotos dele perto do portão, olhando os colegas, vendo os outros jogarem ali naquela gincana, ele foi o único que não participou”, disse.
A mãe afirmou que utilizou as redes sociais como uma forma de desabafo. “O que eu sei é que eu não vou me calar, como eu já me calei outras vezes. Essa não é a primeira situação que ele sofreu. O que eu sei é que eu vou lutar, eu vou seguir dentro do que eu acredito, dentro do que eu penso, para trazer não só o melhor para o meu filho”, finalizou.
O Acorda Cidade irá solicitar um retorno da direção do Instituto de Educação de Tempo Integral Gastão Guimarães, além do Núcleo Territorial de Educação (NTE-19).
Fonte: Acorda Cidade