IPCA acumulado chega a 5,48% e reforça pressão sobre juros; ex-presidente do BC culpa descontrole fiscal pela alta
A inflação acumulada no Brasil atingiu em março de 2025 seu maior patamar dos últimos dois anos, alcançando 5,48% no acumulado de 12 meses, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O índice supera a meta de 4,5% fixada pelo governo Lula, sinalizando desequilíbrios persistentes na condução da política econômica.
Trata-se do maior nível desde fevereiro de 2023 e reflete uma trajetória de deterioração contínua, com impacto direto sobre o poder de compra da população e sobre as expectativas do mercado.
Apesar da leve desaceleração no mês — com o IPCA marcando 0,56% em março, contra 1,31% em fevereiro — a inflação segue fora da faixa de tolerância do Banco Central, cuja meta central é de 3%, com teto de 4,5%.
Banco Central pode elevar juros para conter escalada de preços
Com o avanço da inflação, o Banco Central deve avaliar novos ajustes na taxa Selic, atualmente em 14,25% ao ano. Desde meados de 2024, a autoridade monetária já vinha subindo os juros para tentar conter a pressão inflacionária, mas o cenário de incerteza fiscal tem anulado parte dos efeitos dessas medidas.
Segundo o último Boletim Focus, divulgado em 7 de abril, a projeção do IPCA para 2025 é de 5,65%, ou seja, mais um ano acima da meta estabelecida, o que pressiona ainda mais o Banco Central a agir.
Desde 2025, a meta passou a ser avaliada a cada semestre, e esta é a terceira vez consecutiva no ano em que o índice ultrapassa o teto estabelecido.
Ex-presidente do BC aponta responsabilidade do governo
O ex-presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou em entrevista à Jovem Pan nesta terça-feira (8) que a atual escalada inflacionária tem como principal origem o descontrole das contas públicas sob a gestão Lula.
“A inflação não é culpa do malvado do empresário que subiu o preço ou do dono do supermercado, a inflação, no fim das contas, é culpa do governo”, disse Campos Neto.
“É um processo em que você gasta mais do que arrecada. Isso está mais transparente.”
Ele criticou a tentativa de transferir a responsabilidade da alta de preços ao setor produtivo e defendeu a necessidade de ações técnicas do Banco Central, como o aumento da taxa de juros, para combater o descompasso gerado pela má gestão fiscal.
Pressão econômica continua
Com a confiança dos investidores abalada e a inflação persistentemente acima da meta, o governo Lula enfrenta dificuldades para estabilizar a economia e recuperar a previsibilidade. O cenário atual exige ajustes fiscais consistentes e credibilidade nas contas públicas, sob pena de aprofundar ainda mais a crise de confiança nos mercados e no setor produtivo.