Custo Do Fumo No Brasil é Cinco Vezes Maior Que Lucro Da Indústria

Um levantamento divulgado nesta quarta-feira (28) pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca) e pelo Ministério da Saúde revela que, para cada real de lucro da indústria do tabaco, o Brasil desembolsa cinco vezes mais em custos com tratamento de doenças provocadas pelo cigarro.

O estudo, intitulado “A Conta que a Indústria do Tabaco Não Conta”, expõe uma relação alarmante entre o lucro das fabricantes e os impactos na saúde pública. Segundo o levantamento, cada R$ 156 mil obtidos com a venda de cigarros legais no país corresponde a uma morte causada por doenças como infarto, acidente vascular cerebral (AVC), doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) ou câncer de pulmão – todas diretamente associadas ao tabagismo.

O custo médio de uma única morte por essas enfermidades chega a R$ 361 mil em despesas diretas com saúde pública e salta para R$ 796 mil quando somados os custos indiretos, como perda de produtividade e afastamento do trabalho.

“Na prática, isso significa que, para cada R$ 1 de lucro das empresas de tabaco, o país gasta R$ 2 a R$ 3 apenas com despesas diretas no tratamento de doenças relacionadas ao cigarro, além de R$ 5,10 se considerados também os custos indiretos”, destaca o Ministério da Saúde.

Prejuízo bilionário

Fora do levantamento, mas também divulgado pelo Inca, outro dado reforça o tamanho do problema: os danos provocados pelo tabagismo custam ao Brasil cerca de R$ 153,5 bilhões por ano. O valor equivale a 1,55% de todo o Produto Interno Bruto (PIB) nacional, levando em conta despesas médicas, morte prematura, incapacidades e cuidados informais.

Por outro lado, a arrecadação federal com impostos do setor ficou em R$ 8 bilhões em 2022 – valor que cobre apenas 5,2% dos custos totais gerados pelo cigarro no país. Desse montante, R$ 67,2 bilhões são destinados diretamente ao tratamento de doenças associadas ao tabaco, enquanto os custos indiretos chegam a R$ 86,3 bilhões.

O impacto na saúde é devastador. Dados do Inca apontam que o tabagismo é responsável por 477 mortes diárias no Brasil – ou 174 mil óbitos por ano, todos evitáveis. As principais causas estão ligadas à DPOC, doenças cardiovasculares, diversos tipos de câncer, AVC, diabetes tipo 2 e também ao fumo passivo, que sozinho responde por cerca de 20 mil mortes anuais.

Mesmo proibidos no Brasil desde 2009, os cigarros eletrônicos – ou vapes – seguem avançando, especialmente entre os mais jovens. Pesquisa do Ministério da Saúde mostra que, em 2023, 2,1% da população adulta declarou ter usado o dispositivo. O índice dispara para 6,1% entre jovens de 18 a 24 anos, impulsionado por estratégias de marketing e apelo tecnológico.

Atualmente, 9,3% da população brasileira, cerca de 19,6 milhões de pessoas, se declara fumante, segundo a pesquisa Vigitel 2023. A prevalência é maior entre homens (11,7%) do que entre mulheres (7,2%).

Para quem deseja abandonar o cigarro, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento gratuito em todo o país, disponível nas unidades básicas de saúde (UBS). O serviço inclui acompanhamento profissional, terapia individual e em grupo, além da oferta de medicamentos, como adesivos de nicotina, goma de mascar e o cloridrato de bupropiona.

O acesso ao tratamento é simples: basta procurar uma UBS ou entrar em contato com a secretaria de saúde do município ou do estado.