Consumir mais fibras pode ajudar o organismo a se livrar de substâncias tóxicas conhecidas como “produtos químicos eternos”, segundo um estudo publicado na revista científica Environmental Health. Os autores da pesquisa observaram a diminuição desses compostos no sangue de participantes após quatro semanas de alimentação com maior teor de fibras.
As substâncias per e polifluoroalquil (PFAS) são usadas pela indústria para tornar produtos resistentes à água, à gordura e a manchas. Os compostos estão presentes em itens como panelas antiaderentes, tecidos impermeáveis e embalagens de alimentos.
Chamados de “químicos eternos”, os PFAS não se decompõem no ambiente e podem se acumular tanto na natureza quanto no corpo humano. Estudos já associaram esses compostos a uma série de problemas de saúde, incluindo câncer, colesterol alto, doenças renais, queda na imunidade e problemas congênitos.
Redução de compostos tóxicos no sangue
O novo estudo foi realizado no Canadá, entre 2019 e 2020, com 72 homens adultos que apresentavam colesterol alto. Os pesquisadores coletaram amostras de sangue no início do experimento e após quatro semanas, período em que seguiram uma dieta com maior ingestão de alimentos ricos em fibras.
“A comparação das concentrações de PFAS no início do estudo e após um acompanhamento de quatro semanas mostrou que o total de PFAS detectado diminuiu tanto no grupo controle quanto no grupo de intervenção para colesterol”, escreveram os autores no artigo publicado em 15 março.
A pesquisa identificou uma redução especialmente nos níveis de PFOS e PFOA, dois dos compostos mais comuns e considerados entre os mais perigosos. Eles pertencem ao grupo dos PFAS de “cadeia longa”, que se acumulam no organismo com mais facilidade e são mais difíceis de eliminar.
Como as fibras atuam no organismo?
A hipótese dos pesquisadores é que certos tipos de fibras formam um gel no intestino que impede a absorção dos PFAS. Esse mesmo mecanismo já é conhecido por reduzir a absorção de ácidos biliares — substâncias produzidas pelo fígado para auxiliar na digestão e que contêm estrutura química semelhante à dos PFAS.
Como os PFAS de cadeia longa podem ser eliminados pela bile, o aumento da excreção de ácidos biliares pelas fezes também pode facilitar a saída dessas substâncias do organismo.
Por outro lado, o efeito observado foi menos eficaz para os PFAS de “cadeia curta”, que tendem a ser eliminados pela urina e são menos afetados pelas fibras no intestino.
Os pesquisadores ressaltam que são necessários estudos mais longos para confirmar os resultados obtidos. Um novo estudo já está em andamento, com controle mais rigoroso das fontes de exposição aos PFAS e um período maior de suplementação com fibras.
“Estudos futuros de intervenção precisam controlar as fontes de exposição a PFAS e estender a ingestão de suplementos alimentares para além de quatro semanas”, concluem os cientistas.
Siga a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e fique por dentro de tudo sobre o assunto!