Quem sofre com rinite está mais protegido contra a Covid do que quem não tem. É o que aponta um estudo divulgado na revista científica Thorax. A publicação diz que é possível que não só a rinite, mas outras doenças, como asma alérgica e dermatite atópica, também estejam negativamente associadas ao novo coronavírus. O risco de quem tem essas condições alérgicas se infectar seria bem menor, até 38% em média.
Uma hipótese para explicar esse fato seria uma menor quantidade no organismo dessas pessoas da proteína ECA2 (enzima conversora de angiotensina tipo 2), usada pelo vírus como porta de entrada na invasão das células humanas.
Outros fatores que também parecem barrar a Covid-19 são a alta ingestão de frutas, a realização de exercícios físicos e o maior nível educacional.
Por outro lado, diversos são os fatores que aumentam o risco de contrair a infecção: trabalhar em contato com o público, obesidade, número de pessoas alto em relação ao tamanho do domicílio, entre outros.
Os britânicos com ascendência asiática apresentaram 99% maior chance de pegarem a doença, resultado concordante com outras observações de maior gravidade da doença nessas pessoas, relatam os autores, da Queen Mary University of London e de outras instituições do Reino Unido.
O estudo se baseou nas respostas de mais 15.227 pessoas a questionários mensais elaborados pelo consórcio Covidence UK. Essa iniciativa tem por objetivo, com base nas informações obtidas nessa grande amostragem, desvendar o comportamento da pandemia no Reino Unido.
Do total de participantes, 446 tiveram casos confirmados de Covid-19 –quase 3% da amostra. A partir da comparação entre as características dos infectados e dos não infectados, os pesquisadores buscaram estabelecer quais fatores estavam positiva ou negativamente associados à infecção pelo Sars-CoV-2, ou seja, que poderiam favorecê-la ou impedi-la, respectivamente.
Fazem parte da pesquisa questões sobre renda, etnia, animais domésticos, número de pessoas que moram em casa, tabagismo, peso, altura, condições médicas, dieta, exercício físico, uso de suplementos alimentares, entre muitas outras.
Embora tenha trazido conclusões interessantes do ponto de vista estatístico e epidemiológico, é preciso tomar certos cuidados na hora de tirar conclusões, já que uma associação entre dois fenômenos não implica necessariamente causalidade entre eles.
Pode haver o caso tanto de uma correlação espúria, indevida (existe uma correlação fortíssima entre o preço de ações da Apple e a morte de pessoas em acidentes entre carro e ônibus, por exemplo), ou de uma variável de confusão, que, na verdade, se relaciona a outras duas (é possível associar o consumo de café ao surgimento de câncer de pâncreas, mas isso só acontece porque, na verdade, o consumo de café está associado ao tabagismo que, por sua vez, é causa do câncer).
Para se ter ideia do tamanho da encrenca, mesmo tomando diversos cuidados na análise, os autores ainda encontraram o seguinte resultado: pacientes que tomam imunossupressores estariam 61% mais protegidos contra a Covid-19.
Isso pode ter acontecido não por ação do medicamento –já que o sistema imunológico, a defesa do organismo contra invasores, com eles, se debilita–, mas por essas pessoas serem especialmente cuidadosas com relação à exposição ao vírus.
Há ainda outras possibilidades de distorção da realidade na análise, como a baixa representatividade de etnias minoritárias e o pouco letramento digital das camadas mais idosas da população.
Outro porém é a necessidade de um teste diagnóstico para se considerar um caso de fato positivo; isso somado à baixa cobertura de testagem. Muitas infecções podem ter passado despercebidas, e, com elas, a possibilidade de observar outras associações.
Curiosamente, fatores já considerados de risco com base em outras pesquisas e observações não deram as caras no novo estudo, tais quais idade elevada, sexo masculino e a presença de outras comorbidades.
Os pesquisadores concluem que, na prática, pode não haver grande correspondência nos fatores de risco entre quem simplesmente adquire Covid-19 e aqueles que que vão parar na UTI e/ou que acabam morrendo, conforme já mostrado por estudos realizados em hospitais.
“Há, portanto, uma necessidade urgente de pesquisas adicionais para investigar os fatores sociais e biológicos que podem explicar as disparidades étnicas no risco de desenvolver Covid-19”, escrevem os cientistas.