Caso a Justiça não conceda a revogação da apreensão do adolescente, o advogado disse ainda que vai solicitar que a pena seja cumprida no Espírito Santo para resguardar a segurança dele e da família. Hyara Flor foi baleada dentro da casa em que ela morava, em Guaratinga Reprodução O advogado de defesa do adolescente apontado pela polícia de atirar em Hyara Flor, de 14 anos, disse que vai pedir à Justiça da Bahia que a apreensão do menino, que inicialmente é de 45 dias, seja revogada. Caso isso não aconteça, o profissional afirmou que vai solicitar então que a pena seja cumprida no Espírito Santo a fim de resguardar a segurança dele e da família. Compartilhe no WhatsApp Compartilhe no Telegram “Queremos que a apreensão seja revogada, ou, caso não revogada, que seja transferida para o Espírito Santo pelo risco que existe da transferência desse menor para a Bahia. Nós acreditamos na sensatez do Judiciário para que ele permaneça, caso se decida pela internação, no Espírito Santo para resguardar a vida dele”, disse o advogado Homero Mafra. Homero Mafra Fernando Madeira/ A Gazeta O adolescente, que também tem 14 anos e era casado com Hyara, foi apreendido nesta quarta-feira (26), em Vila Velha, no Espírito Santo, suspeito de cometer um ato infracional análogo ao crime de homicídio qualificado (feminicídio). A adolescente da comunidade cigana foi baleada no dia 6 de julho, dentro da própria casa, em Guaratinga, no extremo Sul da Bahia. O advogado disse ainda que a regra prevista na lei de execução penal é que a pessoa presa ou aprendida fique próximo à família. “Ele está internado no Espírito Santo e está à disposição da Justiça da Bahia, que pediu a internação dele. Queremos que a pena seja cumprida aqui porque na Bahia é onde há maior risco para ele, que é o onde está a família da Hyara”, disse. Apesar de a Justiça da Bahia ter pedido a transferência do adolescente, ele ainda está no Espírito Santo. A Polícia Civil informou que o adolescente foi encaminhado para a Delegacia Especializada do Adolescente em Conflito com a Lei (DEACL), no dia em que foi apreendido, onde foi dado cumprimento ao Mandado de Busca e Apreensão. Após os procedimentos, ele foi encaminhado ao Instituto de Atendimento Socioeducativo do Espírito Santo (Iases) onde permanece à disposição da Justiça. A decisão sobre transferência do adolescente para outro estado compete ao Poder Judiciário. LEIA TAMBÉM: TRADIÇÃO x LEI: Entenda por que casamento de adolescente é legalmente inválido Laudo da perícia aponta que o tiro foi feito por alguém a, no máximo, 25 centímetros de distância Pai do marido de Hyara disse que disparo foi acidental Nesta quinta-feira (27), o sogro de Hyara disse que o tiro que culminou com a morte da adolescente foi acidental após ela brincar com uma arma engatilhada com um dos filhos dele, que tem nove anos de idade. Ninguém da família tinha posse de arma. “Neste dia, ela teve lá em casa, tive contato com ela. Aí ela saiu pra casa com o meu filho mais novo pra se arrumar e depois fazer compras no supermercado com o esposo. Aí, ela se maquiando, pegou a arma de dentro da gaveta e manobrou, colocou no meu filho mais novo e disse: ‘perdeu, malandro'”, contou o comerciante pai do adolescente apreendido O pai do adolescente contou ainda que depois que Hyara apontou a arma para a criança, ela teria entregado o revólver para ele. Foi quando a adolescente teria dito: “Como é que você fazia?’ e mirou”, explicou o pai do acusado. Depois de dar a arma para a criança, o revólver teria disparado por acidente: “A bala estava na agulha e, sem querer, disparou”, disse o comerciante. Ainda de acordo com o homem, após o disparo que teria sido acidental, a criança foi para fora do imóvel onde o fato aconteceu atrás de socorro, encontrando o pai e um tio. “Ele saiu correndo pra fora e dizia: ‘o meu pai, o meu pai. Me ajuda porque atirei na Hyara'”, disse o comerciante. O pai do marido de Hyara não vai ser identificado para preservar as identidades dos menores de idade envolvidos no caso em respeito ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A entrevista dada pelo pai do adolescente foi concedida em Vitória, no Espírito Santo, onde a família contratou um advogado para atuar na defesa do acusado. Marido de Hyara não estava em casa no momento do disparo, disse o pai O comerciante também destacou que era casado com Hyara não estava na casa onde Hyara sofreu o disparo, mas sim em galpão próximo. Reprodução/TV Gazeta Em entrevista, o comerciante também destacou que o adolescente que era casado com Hyara não estava na casa onde a jovem sofreu o disparo, mas sim em um galpão próximo à residência. “Ele estava com um amigo, que é amigo nosso também, esperando a esposa se arrumar para ir ao supermercado”, disse o comerciante. Apesar disso, devido ao barulho e à correria para socorrer a menina, o adolescente foi para o imóvel, mas foi ameaçado por um tio de Hyara. Hyara foi morta com um disparo feito a cerca de 25 cm de distância dela; apontou perícia Reprodução/TV Gazeta “Um tio dela [Hyara] efetuou três disparos dizendo que queria vingança de qualquer jeito, que tinha que matar o marido de Hyara de qualquer jeito. Aí eu vi que estava apertando demais pra mim e pedi ao meu sobrinho para levar Hyara para o hospital”, disse. Logo em seguida, de acordo com o pai do adolescente apreendido, eles fugiram: “Aí eu saí em fuga não foi por medo da Justiça, que eu não devo nada. Foi por medo de matar a minha família. Saí com tanta pressa que esqueci uma filha e uma neta pra trás”, lembrou. Por que o Espírito Santo? Casamento de adolescentes na Bahia Reprodução/TV Gazeta Segundo o pai do marido de Hyara, ele, a esposa e três filhos saíram da Bahia no mesmo dia em que a menina morreu e foram para o Espírito Santo porque eles têm uma parente que mora na Grande Vitória. “Eles levantaram muita calúnia na rede social. Eu estava com medo de ser linchado em qualquer ponto que eu parasse. Eles conseguiram fazer muito boato, muito tumulto sobre mim. Também ficavam me mandando mensagem, pedindo um dos meus filhos para tirar a cabeça, para vingar a morte de Hyara”, disse. Ainda de acordo com o comerciante, ele e família ainda estão com medo. “Eu tô desesperado. A Justiça vai ser feita e está na mão da Justiça pra comprovar que não foi ele. Agora eu quero a seguranca pra mim, minha esposa, meus filhos e meu irmão. Se eu morrer aqui hoje, foram os familiares de Hyara”, disse. Adolescente apreendido Casamento de Hyara com o marido aconteceu 45 dias antes do crime Reprodução/TV Globo O adolescente suspeito do crime foi encontrado em Vila Velha, no Espírito Santo, e por também ter menos de 18 anos, e levado para a Delegacia Especializada do Adolescente em Conflito com a Lei. Conforme foi informado pela polícia, ele é suspeito de cometer um ato infracional análogo ao crime de homicídio qualificado (feminicídio). A adolescente da comunidade cigana foi baleada no dia 6 de julho, dentro da própria casa. A família da vítima acredita que o crime foi um ato de vingança, mas a informação não foi confirmada pela polícia de Guaratinga, que investiga o caso. Logo após o crime, o marido e os familiares dele fugiram da cidade. A polícia rastreou o veículo e descobriu que o grupo evitou rodovias movimentadas e seguiu por pequenas cidades da Bahia e do Espírito Santo, até Vitória. Na capital capixaba, tentaram ficar na casa de parentes. Desde então, a polícia tentava localizar o suspeito e a família dele. Na quarta, o delegado responsável pelo caso, Robson Andrade, confirmou que ele havia sido apreendido. Posteriormente, a Polícia Federal do Espírito Santo enviou uma nota, comunicando a apreensão do garoto. Adolescente suspeito de matar Hyara Flor com tiro é apreendido no Espírito Santo O pai da adolescente, Hiago Alves, comemorou a apreensão do suspeito com um vídeo publicado nas redes sociais. [Veja acima] Na publicação, ele diz que “todos foram presos”. Apesar disso, a única informação divulgada pela polícia é que o adolescente foi apreendido. Além disso, não há nenhum mandado de prisão contra os familiares do suspeito. O g1 entrou em contato com a advogada da família de Hyara, Janaína Panhossi, que afirmou que a família do suspeito também foi encontrada. Entretanto, essa informação não foi confirmada pela Polícia Federal. Motivação é investigada Adolescente morta em comunidade cigana: laudo da perícia aponta que o tiro foi feito por alguém a, no máximo, 25 centímetros de distância Segundo a família de Hyara, a morte da adolescente foi uma vingança planejada. O tio e a sogra dela tinham um relacionamento extraconjugal, o que já era sabido pela comunidade cigana, inclusive pelos parentes da vítima. LEIA TAMBÉM: Fotos íntimas da sogra e do tio da vítima teriam sido vazadas dias antes do crime, diz advogada Apesar disso, o casamento de Hyara e do suspeito foi concedido porque, meses antes, a garota teve um noivado desmanchado. Na comunidade, situações como essa não são bem vistas e, por isso, o pai da menina aprovou o segundo noivado, dessa vez com o adolescente de 14 anos. “Eles aproveitaram a fragilidade de minha filha ter terminado um noivado. Ele já me pediu (a mão da filha) e eu disse: ‘dou tranquilo’. Ele (o pai do suspeito) aproveitou o momento”, disse Hiago Alves, pai de Hyara. O assassinato aconteceu apenas 45 dias após o casamento dos adolescentes. Um laudo da perícia apontou que o tiro foi feito por alguém a, no máximo, 25 centímetros de distância. Apesar disso, não se sabe se o disparo foi acidental ou não.
Fonte: G1