Carlos Nobre Afirma Que Brasil Pode Zerar Emissões De Gases De Efeito Estufa Até 2040

O Brasil tem condições reais de zerar suas emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2040, desde que invista em energia 100% limpa, agricultura de baixo carbono e restauração em larga escala dos biomas. A afirmação é do cientista Carlos Nobre, um dos maiores especialistas em mudanças climáticas do país, que participou nesta quarta-feira (7) da 5ª Conferência Nacional do Meio Ambiente, em Brasília.

Durante a palestra de abertura do segundo dia do evento, Nobre antecipou dados de um estudo em andamento, segundo o qual o país pode alcançar a neutralidade de emissões em menos de duas décadas, com políticas públicas eficazes e ações coordenadas em diversas frentes.

“O Brasil tem total potencial para ter 100% de energia limpa e renovável e, até 2040, com agricultura muito mais neutra em carbono, grande restauração florestal. Nosso estudo aponta que podemos remover até 600 milhões de toneladas de CO₂ por ano, a partir de 2040, restaurando os biomas”, afirmou o climatologista.

Segundo ele, medidas como a eliminação do uso de combustíveis fósseis, a adoção de tecnologias sustentáveis no campo e o fim do desmatamento são essenciais para evitar um colapso climático no país. Ele ressaltou que, sem uma guinada urgente na política ambiental, o Brasil continuará emitindo até 1,2 bilhão de toneladas de CO₂ equivalente por ano, mesmo com as metas atuais de restauração e conservação.

Efeitos globais e locais do aquecimento

Carlos Nobre chamou atenção para os efeitos diretos da queima de combustíveis fósseis, destacando que entre 6 e 7 milhões de pessoas morrem por ano no mundo em decorrência da poluição urbana. Ele também lembrou que, em 2022, o Brasil ocupava a quinta posição entre os maiores emissores do planeta, com média de 11 toneladas de gases por pessoa ao ano.

O cientista fez um alerta sobre os efeitos catastróficos de um cenário de aquecimento global acima de 2 °C: o branqueamento de corais, a perda de até 99% das espécies, o derretimento do permafrost (camadas de solo congelado) e a consequente liberação de mais de 200 bilhões de toneladas de metano e CO₂, agravando ainda mais o efeito estufa.

“O metano é um gás muito poderoso do efeito estufa, 30 vezes mais forte que o gás carbônico”, explicou.

Amazônia se aproxima do ponto de não retorno

A situação da Amazônia foi um dos principais focos da fala de Nobre, que alertou para o prolongamento do período seco, o aumento da mortalidade de árvores e o surgimento de regiões que já se tornaram emissoras líquidas de carbono, como áreas no sul do Pará e norte de Mato Grosso.

Segundo o cientista, a floresta amazônica já perdeu parte importante da sua função como “pulmão do planeta”: nos anos 1990, removia até 1,5 bilhão de toneladas de CO₂ por ano; hoje, há áreas que emitem mais do que capturam. “Se o desmatamento atingir entre 20% e 25% e o aquecimento global chegar a 2,5°C, podemos perder até 70% da Amazônia, que se transformará em um ecossistema totalmente degradado, semelhante a uma savana empobrecida”, alertou.

Ele também destacou a importância dos rios voadores, massas de vapor d’água que partem da floresta e garantem boa parte das chuvas no Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil. “Pelo menos 40% da chuva no Cerrado e no Sul, e 15% no Sudeste, dependem desses rios voadores, cuja existência está diretamente ligada à manutenção da floresta em pé”, afirmou.

Cerrado e Caatinga em risco

Além da Amazônia, os biomas do Cerrado e da Caatinga também estão se aproximando do ponto de não retorno, o que, segundo Carlos Nobre, pode levar ao aumento das ondas de calor, ameaças à saúde humana e elevação do risco de novas pandemias, favorecidas pelo desequilíbrio ecológico.

Encerrando sua participação, o cientista reforçou a necessidade de reformar a matriz urbana e social das cidades brasileiras, criando soluções que reduzam desigualdades socioeconômicas e deixem um legado ambiental positivo para as próximas gerações.